Protegendo o Pantanal para o nosso futuro comum
Por Rafaela Nicola, Diretora Executiva, Wetlands International Brasil
(Imagem: Wetlands International)
O Dia Mundial das Áreas Úmidas serve como um poderoso lembrete do papel crucial desse ecossistema na manutenção da vida. As áreas úmidas são muito mais do que apenas paisagens alagadas; elas são paraísos de biodiversidade, reguladores climáticos e centrais para a segurança hídrica. No entanto, elas continuam a ser mal compreendidas, subvalorizadas e subprotegidas. Com 35% de perda global desde 1970, as áreas úmidas são nosso ecossistema mais ameaçado, desaparecendo três vezes mais rápido do que as florestas.
Em 2025, a Wetlands International destaca o Pantanal. Essa vasta planície aluvial, está localizada na bacia do Alto Paraguai e é profundamente influenciada pelos rios que cruzam esta região. É a maior área úmida tropical do mundo, um exemplo vivo tanto de riqueza ecológica quanto de vulnerabilidade. Estende-se pelo Brasil, Bolívia e Paraguai, com 70% de seu território localizado no Brasil. Depende de três dos biomas mais importantes do Brasil: a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica para recursos como água, fluxo de sedimentos e nutrientes. Além disso, é influenciado pelo bioma Chaco, que cobre partes do Pantanal no norte do Paraguai e leste da Bolívia.
O Pantanal abriga mais de 4.700 espécies de animais e plantas, incluindo grandes populações de espécies ameaçadas, como onças, tuiuiús e araras-azuis. Mais importante, ele fornece locais essenciais para formação de ninhos e alimentação para aves migratórias e peixes.
Como todas as áreas úmidas do mundo, o Pantanal fornece serviços ecossistêmicos importantes, como sequestro de carbono, regulação e purificação da água. Além disso, sustenta atividades econômicas para populações locais, desde a pecuária até o turismo.
Infelizmente, o Pantanal enfrenta ameaças crescentes como desmatamento, incêndios descontrolados e mudanças climáticas. Práticas agrícolas insustentáveis em larga escala, principalmente em áreas de planalto, envolvendo uso de agroquímicos e irrigação nas terras baixas, atividades de dragagem ao longo dos rios e a introdução de espécies exóticas para pastagem, têm degradado ainda mais a região.
Essas atividades reduziram severamente a resiliência da região às ameaças naturais. Em 2020, os incêndios destruíram mais de 30% da área total do bioma. Em 2024, até agosto, 1,3 milhão de hectares de áreas úmidas vitais do Pantanal queimaram em incêndios florestais. As árvores carbonizadas e os restos de animais são uma representação visual dos efeitos sentidos profundamente pelas comunidades indígenas.
Esses desafios ressaltam a necessidade urgente de medidas protetivas mais fortes e da adaptação de práticas econômicas às realidades de um clima em transformação. Alcançar isso requer metas de gestão integradas, exigindo responsabilidade global e apoio em projetos de campo. É fundamental promover práticas produtivas que alinhem o conhecimento tradicional com a expertise técnico-científica, juntamente com a introdução de tecnologias e práticas sociais inclusivas já adaptadas às cheias e secas sazonais da região. Essas práticas devem respeitar a dinâmica da paisagem, preservar a sociobiodiversidade da região e proteger seu rico patrimônio natural. A escuta ativa e o amplo engajamento, tanto das comunidades locais quanto globais, são fundamentais para encontrar soluções sustentáveis focadas no bem-estar, qualidade de vida e na promoção da harmonia entre natureza e sociedade.
Na Wetlands International, trabalhamos na restauração e proteção do Pantanal por meio do Programa Corredor Azul. Junto com parceiros, lançamos uma ferramenta abrangente, o SIFAU – Sistema de Inteligência do Fogo em Áreas Úmidas, implementamos um sistema de alerta precoce de incêndios, apoiamos brigadistas locais com equipamentos e treinamento e trabalhamos com comunidades para melhorar o manejo de viveiros e áreas reflorestadas.
Também somos um parceiro central do Freshwater Challenge, uma iniciativa global para acelerar a restauração de rios e áreas úmidas degradados e proteger ecossistemas de água doce ainda intactos. Recebemos com entusiasmo a adesão do Brasil ao Freshwater Challenge, destacando a importância de reunir diversos atores para colaborar e criar sinergias entre convenções para proteger o futuro desses preciosos ecossistemas.
Ainda este ano, o Brasil receberá líderes mundiais no poderoso sistema do Rio Amazonas, como anfitrião da COP30 da UNFCCC que acontece em Belém. Este será um momento-chave para governos, empresas e financiadores reconhecerem a vulnerabilidade das áreas úmidas frente à crise climática e as priorizarem em compromissos, ações e investimentos voltados à mitigação e adaptação climática.
Na preparação para a COP30 climática, a Convenção sobre Áreas Úmidas COP15 será um marco crítico para destacar as áreas úmidas como soluções climáticas. Organizada pelo Zimbábue no final de julho, governos e outras partes interessadas podem fortalecer compromissos, adotar políticas transformadoras e mobilizar financiamento para a conservação e restauração de áreas úmidas.
O Dia Mundial das Áreas Úmidas é mais do que uma celebração; é um chamado à ação — um apelo para que os líderes priorizem a saúde das áreas úmidas para a preservação da biodiversidade, mitigação climática e segurança hídrica. É um chamado para proteger as áreas úmidas para o nosso futuro comum. A hora de agir é agora.