Wetlands International viabiliza construção de viveiro em Território Kadiwéu, no Pantanal
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Ríos y lagos
Com recurso do Programa Corredor Azul (PCA), um viveiro foi construído dentro do Território Kadiwéu. O espaço será destinado a produção de mudas nativas do Pantanal, algumas de espécies ameaçadas de extinção, e na criação de uma horta comunitária.
Em Mato Grosso do Sul, um viveiro foi construído dentro da maior reserva indígena do Pantanal, o Território Indígena (TI) Kadiwéu. O espaço, construído dentro da aldeia Barro Preto, terá uma tripla missão: garantir a produção de mudas nativas do bioma, reservar um espaço para uma horta comunitária e, principalmente, buscar desvendar os mistérios no cultivo do pau santo, árvore essencial na produção da resina utilizada na cerâmica Kadiwéu, tão apreciada mundo afora. O trabalho é uma realização da Wetlands International Brasil com a Mupan (Mulheres em Ação no Pantanal), por meio do Programa Corredor Azul (PCA), em parceria com a ABINK (Associação dos Brigadistas Indígenas da Nação Kadiwéu).
Construído na aldeia Barro Preto, uma das seis comunidades do TI Kadiwéu, que fica no município de Porto Murtinho, o viveiro tem gerado muitas expectativas entre os moradores. “Ele simboliza a nossa esperança para o cultivo do pau santo. É que sem ele não existe cerâmica Kadiwéu”, afirma a artesã Silvana Silva que antevê outros benefícios do viveiro, “Também vai ter uma horta ali dentro para produção de verduras e legumes. Com elas vamos melhorar a merenda escolar e oferecer produtos fresquinhos às famílias. Uma forma de estimular hábitos saudáveis entre as crianças”.
E do que depender da comunidade o que não falta é empolgação. O mutirão para levantar o viveiro envolveu desde os brigadistas da ABINK até professores e alunos que frequentam a escola da aldeia. Além da participação da Wetlands International Brasil e Mupan que viabilizaram a compra e a entrega dos materiais de construção utilizados no espaço.
Este já é o segundo viveiro instalado no TI Kadiwéu. O primeiro foi idealizado pela ABINK e construído também com o apoio e recurso do Programa Corredor Azul, na aldeia Alves de Barros com a finalidade de recuperar áreas degradadas próximas de nascentes que estão secando em decorrência da ação humana. Já na Barro Preto o objetivo principal é viabilizar a produção de espécies nativas do Pantanal, em especial, o pau santo.
O que explica a escolha do nome do viveiro, na língua Kadiwéu, de “Nialigui Libineningui”, que traduzido para o português significa mata bonita. “Este será o maior viveiro do território, com quase 500m², sendo metade destinado para a horta e a outra metade para a produção de mudas. O pau santo será o carro-chefe do cultivo porque é uma espécie que só encontramos no Pantanal e essa aldeia tem uma localização estratégica por estar dentro do bioma. Já tentamos plantar pau santo em outras aldeias do território e não deu certo,” revela o presidente da Abink, Mesaque Rocha.
O chefe da brigada ainda enfatiza a importância do viveiro para outras demandas. “Serão produzidas diversas espécies como cumbaru, aroeira, jatobá, pindó [um tipo de coqueiro que produz a palha usada na cestaria Kadiwéu]. Há intenção de que mudas possam ser vendidas aos produtores rurais da região. Uma forma de gerar renda e contribuir com a preservação da natureza”, lembra.
Para a coordenadora de políticas da Wetlands International Brasil e diretora-geral da Mupan, Áurea Garcia, o momento representa muito os valores do Programa Corredor Azul. Um trabalho criado, em 2018, para atuar pela conservação de três importantes áreas úmidas da América do Sul: Pantanal (Brasil, Paraguai e Bolívia) e Delta do Paraná e Esteros de Iberá (Argentina).
“Cada ação como essa é uma materialização do componente Modos de Vida, do PCA. Como Mupan e Wetlands International, estamos felizes por participar deste momento tão importante no TI Kadiwéu, pois sabemos da importância do papel dos povos originários na conservação do meio ambiente e com o Pantanal não é diferente”, declara.
Agora, o passo seguinte é arregaçar as mangas para a formação da horta e na coleta de sementes para produção das mudas. “A Wetlands International e a Mupan já compraram as sementes das hortaliças. Precisamos fazer os canteiros e promover as oficinas sobre coleta, armazenamento e processos de dormência e germinação de sementes. É a parte prática que acontece dentro do viveiro,” pontua o indígena Terena, Fernando Gonçalves, que é consultor em sustentabilidade do projeto Tumuné Úti (Nosso Futuro), da aldeia Imbirussu, na cidade de Aquidauana, e que ficará responsável por orientar as atividades técnicas dentro do viveiro no Território Kadiwéu.
Território Indígena Kadiwéu
O Território Indígena Kadiwéu possui 538 mil hectares e aproximadamente 1.400 moradores nas aldeias Alves de Barros, São João, Campina, Barro Preto, Córrego do Ouro e Tomazia. Um território que trabalha na preservação de sua cultura e conservação dos dois biomas: Pantanal e Cerrado.
Com a formação da brigada do Prevfogo, em seguida da ABINK, no ano de 2019 e a construção dos viveiros, a etnia possui ferramentas a mais para trabalhar pela conservação da natureza. Afinal, somente a tragédia do fogo, em 2020, comprometeu 45,9% das terras Kadiwéu, ou seja, 247,3 mil hectares foram consumidos pelas chamas. Uma área que demandará tempo para se recuperar totalmente.
Mulheres em Ação no Pantanal
A Mupan é a primeira ONG do Pantanal voltada para a incorporação de gênero na gestão das águas. Foi fundada em agosto de 2000, a partir do componente de fortalecimento das organizações do Projeto GEF Pantanal/Alto Paraguai. Sua missão consiste em ser uma instituição referência no empoderamento de mulheres e de comunidades tradicionais para a defesa de seus territórios, resguardando modos de vida, alinhado ao uso inteligente dos recursos naturais e à igualdade de gênero. Para tanto utiliza-se de metodologias colaborativas e parcerias com os diferentes setores para a geração e aplicação de conhecimentos. De 2017 a 2019 foi responsável pela implementação do Componente Pantanal, do Programa Corredor Azul (PCA) da Wetlands International.
A Wetlands International Brasil
A Wetlands International Brasil é uma organização global, não governamental, sem fins lucrativos, que tem por objetivo conservar e restaurar as áreas úmidas para a natureza e as pessoas. Ao longo dos mais de 80 anos de história, a instituição tem cumprido um papel singular na conservação desses ecossistemas vitais para o planeta e atuado em defesa das áreas úmidas e seus valores nas convenções internacionais no cumprimento da sua missão de preservar e restaurar as áreas úmidas, seus recursos e biodiversidade.
É uma das organizações associadas à Convenção de Áreas Úmidas de Importância Internacional (Convenção Ramsar). O escritório Latino América e Caribe (LAC) está sediado na Argentina. No Brasil a Wetlands International tem seu escritório nacional em Campo Grande e coordena o componente Pantanal do Programa Corredor Azul.
Programa Corredor Azul
O Programa Corredor Azul é um trabalho da Wetlands International implementado com o objetivo de proteger a biodiversidade de áreas úmidas do sistema Paraná-Paraguai composto pelo Pantanal, os Esteros de Iberá e o Delta do Paraná. Estendendo por 3.400 km desde o Pantanal brasileiro, passando pela Bolívia e Paraguai até desembocar no Delta do Paraná, na Argentina, o Sistema Paraná-Paraguai (Corredor Azul) é um dos últimos exemplos do mundo de um grande sistema de rios de fluxo livre e contínuo.