Ferramenta de gestão promove mudanças em Território Indígena Kadiwéu
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Ríos y lagos
“Plano de Vida”, desenvolvido há quatro anos, reúne conquistas em diversas esferas, como saúde, educação, cultura e meio ambiente; iniciativa é fruto de um trabalho assistido pelo Programa Corredor Azul
Desde 2018, a comunidade do Território Indígena (TI) Kadiwéu tem trabalhado com uma importante ferramenta de gestão que tem garantido às suas aldeias conquistas nas mais diversas esferas (educação, saúde, cultura, meio ambiente, entre outros). Trata-se do Plano de Vida, um documento elaborado de forma coletiva entre indígenas, com a facilitação da Wetlands International Brasil e da Mupan – Mulheres em Ação no Pantanal.
O texto do Plano de Vida traz de forma objetiva os anseios do Povo Kadiwéu. Por isso, é considerado uma importante ferramenta para a comunidade expressar todo o seu desejo quanto ao futuro da terra e das famílias. Em posse do documento, as lideranças indígenas poderão buscar melhorias para a reserva, ou seja, podem dialogar de melhor maneira com parceiros, governantes e afins, para tirar do papel os seus sonhos.
Recentemente, o documento foi revisado e ampliado. Composta por 70 páginas, a publicação chega, oficialmente, às mãos dos indígenas do Território a partir de quinta-feira (22). Ao todo, serão entregues 80 exemplares do material. O primeiro repasse será feito na sede da aldeia Barro Preto. De lá, uma equipe técnica das instituições percorre as demais aldeias para se reunir com outras lideranças com o mesmo propósito.
De moradores do Território a visitantes, os benefícios do Plano de Vida são evidentes aos olhos de quem percorre às terras Kadiwéu.
“Nesse plano, eu posso ver, por exemplo, o que a área de saúde está precisando: enfermeiros, dentistas e médicos indígenas formados. Então, eu, como professora, vou atrás para que nossos jovens se formem para isso”, explica a professora Kadiwéu, Rosangela Matos, que dentro de sala de aula tem buscado ampliar os interesses das crianças e adolescentes quanto ao futuro que elas desejam para si e para o seu povo.
A nova edição do documento traz 12 eixos temáticos a serem trabalhados na gestão das aldeias. Desses, cinco são novos: Fogo; Água; Mulheres; Juventude e Esporte e Lazer. Enquanto, os outros sete (Educação, Saúde, Território, Meio Ambiente, Agricultura e Pecuária, Cultura e Convivência no Território e Relações Institucionais) estão inseridos desde a primeira versão publicada em 2019.
Mais do que uma análise de estratégias, a atualização do Plano de Vida simboliza um maior empoderamento da Nação Kadiwéu para além de suas fronteiras. Se por um lado, a publicação traz conteúdos que contribuem na tomada de decisão interna, por outro, promove o protagonismo indígena frente às negociações com os órgãos governamentais que prestam serviços em seu território e às instituições públicas e privadas que queiram firmar parcerias.
Início – A primeira versão escrita do plano nasceu no ano de 2019. Dois anos depois, houve uma revisão do documento. O trabalho foi promovido de forma colaborativa entre os indígenas e uma equipe técnica da Wetlands International Brasil e Mupan.
Imersa nesse processo desde o início, Lilian Pereira, hoje, coordenadora de assuntos indígenas e comunidades tradicionais da instituição, afirma que são nítidas algumas das evoluções nas aldeias, a partir do Plano de Vida.
“Em fevereiro de 2022, a Associação de Brigadistas Indígenas da Nação Kadiwéu, a Abink, teve o seu primeiro projeto aprovado em edital. Algo que nos enche de orgulho. Foi uma concorrência acirradíssima, com aprovação de recursos que vai ser utilizado na compra equipamentos para auxiliar nos trabalhos de fiscalização do território, primeiro projeto desenvolvido no local.”, revela.
Construção de viveiros no TI Kadiwéu, fortalecimento da Abink, melhoria na convivência entre os indígenas das aldeias, ações de reflorestamento para recuperação de nascentes e promoção da educação ambiental nas escolas das comunidades, com temas emergentes como o aquecimento global, estão entre os benefícios conquistados a partir do plano.
“O aquecimento global está em todo o lugar e esse desequilíbrio climático tem causado danos a nossa reserva. Por isso, temos trabalhado pelo meio ambiente para cuidar de tudo aqui. Somos os guardiões dessas áreas e estamos lutando para preservar essa riqueza: as nossas florestas, o Cerrado e o Pantanal”, afirma o brigadista da Abink, Rubens Aquino.
Conhecimento – As ações não terminam com a finalização da nova versão do Plano de Vida. Outras iniciativas estão sendo desenvolvidas e propõe novas conquistas aos Kadiwéu. Em paralelo à entrega do Plano de Vida, também está prevista uma ação em alusão ao Dia da Árvore, celebrado no dia 21 de setembro. A programação inclui uma capacitação para manejo do viveiro de mudas que será promovida nesta quarta (21) e quinta-feira (22). Além de uma palestra sobre educação ambiental, ministrada pelo chefe da Abink, Mesaque da Rocha.
Serviço
Entrega do Plano de Vida e Capacitação para Manejo do Viveiro de Mudas
Data: 21 a 22 de setembro (quarta e quinta-feira)
Local: Aldeia Barro Preto – Território Indígena Kadiwéu (Porto Murtinho/MS)