Povo Kadiwéu avalia resultados do Plano de Vida para conservação do seu Território

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A viagem de campo teve como foco reunir indígenas do Território Kadiwéu para discutir o Plano de Vida – andamento de trabalhos e ações futuras em solo pantaneiro.

Por duas semanas uma equipe da Wetlands International Brasil percorreu cinco aldeias do Território Indígena (TI) Kadiwéu (Alves de Barros, Tomazia, São João, Barro Preto e Campina), em Porto Murtinho. Realizada de 2 a 12 de novembro, a viagem teve a finalidade de reunir indígenas e suas lideranças para avaliar os rumos das atividades do Plano de Vida, facilitadas pelo Programa Corredor Azul (PCA).

Criado há dois anos, o Plano de Vida funciona como ferramenta de gestão para promover a autonomia e o protagonismo dos povos originários que vivem na região do Pantanal, como destaca Lilian Pereira, coordenadora do Componente Modos de Vida do PCA (Programa Corredor Azul), da Wetlands International e Mupan – Mulheres em Ação no Pantanal.

“O Plano de Vida é um documento de gestão da comunidade, ou seja, tudo o que a comunidade anseia para o seu povo está escrito ali. Esta é a segunda viagem realizada com esse propósito nesse ano. Na primeira, verificamos os resultados gerados pelo Plano de Vida e, agora, a gente se reuniu com a comunidade para mapear as ações futuras, ou seja, saber deles quais são as maiores necessidades, principalmente, considerando dois grandes desafios: a pandemia e o fogo que tanto marcaram do ano de 2020 pra cá”.

Todo um contexto enfrentado nesse período tem gerado preocupação em muitos indígenas: a falta d’água, em especial, na aldeia Alves de Barro. Algo inimaginável, considerando que o TI Kadiwéu está inserido em dois biomas: Cerrado e Pantanal. Esse último, considerado a maior área úmida de água doce do mundo.

Contudo, um cenário possível visto que 29% de todo o Pantanal, na parte brasileira, foi consumido pelas chamas no ano passado. Só no TI Kadiwéu o fogo atingiu quase metade (45,9%) de toda sua área de 548 mil hectares, o equivalente a 247,3% reduzidos às cinzas, conforme dados da Lasa/UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais).

Um desastre ambiental que, direta ou indiretamente, implica em prejuízos às nascentes de rios e córregos dentro do bioma, como pontua Eliseu Veiga, vice-cacique da Aldeia São João e chefe de brigada na comunidade.

“O Pantanal vem sofrendo muito com as queimadas que prejudicam as nossas nascentes. Essa decadência de oferta de água nos córregos é percebida por nós que vivemos dentro do bioma. O Plano de Vida vem com estratégias de gestão que beneficiam o povo Kadiwéu, pois promove autonomia para encontrarmos soluções para os problemas que afetam a vida da nossa comunidade e do meio ambiente”.

Uma reunião foi promovida junto à SESAI – Secretaria Especial de Saúde Indígena, no período em que a viagem a campo estava acontecendo. Um pedido dos Kadiwéu para debater toda a problemática em torno da água. Vale destacar também o trabalho dos brigadistas que, em 2021 e 2020, tiveram um desempenho fundamental no combate ao fogo, e que tem buscado junto a parceiros melhorias para suas atividades no combate e na qualidade ambiental no território.

Para Lilian Ribeiro a viagem de campo realizada ao lado dos colegas de trabalho – Pedro Cristofori e Rodrigo Silva – trará reflexões coletivas. “Geralmente organizações chegam nos territórios querendo atuar de fora para dentro, com ideias prontas, sem ter a preocupação do que realmente a comunidade quer. Então, para quem está de fora este documento pode ser um espelho das reais demandas do povo Kadiwéu”.

Fortalecimento da ABINK, a instalação de um viveiro de mudas, a edificação de uma escola estadual de nível médio e a construção de uma ponte no Rio Aquidabã foram algumas das conquistas geradas após a elaboração do Plano de Vida junto aos indígenas no Pantanal. Hoje, essas demandas já atendidas dão lugar a outras novas e trazem consigo novos desafios vivenciados pelos indígenas do Pantanal.